26 fevereiro 2009
20 fevereiro 2009
18 fevereiro 2009
14 fevereiro 2009
é hoje!!!
When the Moon is in the seventh
house/and Jupiter aligns with
Mars/Then peace will guide the
planets/and love will steer the
stars/This is the dawning of the Age of Aqua-
rius/Age of Aquarius/Aquarius!/Aquarius!”
é hoje, mas mudou alguma coisa? um sabadão chuvento, pousei na fazenda, dormi sem o meu aquecedor (ou a aquecedora), acordei meio com dor de cabeça... nada esotérico....
mas, vai lá, é outra ERA, ... era?
12 fevereiro 2009
mitio chegou e foi
o mitio chegou para uma vista de 1 mes no brasil. é o terceiro na escala "cronológica" de cima pra baixo (6+1 irmão), mora há mais de 15 anos no japão, ex-artista grafico, ex-riponga, ex-pastor de igreja evangélica, hoje vive de estamparia. e agora praticante de meditação vipassana. dos meus irmãos, acho que é o mais radical nas mudanças. nos anos 80, quando fez uma viagem para a chapada de guimarães, teve um encontro com "deus", uma experiência que fez com que "reconvetesse" para o cristianismo evangélico, tornando-se pastor, dentro de uma estrutura hierarquica de igreja. ah... pra mim foi PHODA!!! quando o encontrei, de volta da chapada já convertido, foi dificil conversar com ele. não era conversa, era sermão+oração com as suas mãos postados na minha cabeça... isso foi no fim dos anos 80. ficamos anos sem nos ver. daí então, só em 2003 estive na casa dele no japão, foi quando estava dropando fora da igreja, largando a "profissão de pastor"....
mas então, botamos a conversa em dia... falamos de tudo, da nossa infância, dos tempos de londrina, dos filhos, dos velhos amigos ( ripongas ) daquela época, enfim.... lembrei do wood&stock de angeli, achei esse quadrinho que cai muto bem aqui...
Darwin, 200 anos
então, hoje Dawin, teria 200 anos.
foi no ano passado. tinha ido a são paulo, umas burocracias. passei na frente do masp. fui ver a exposição. http://www.darwinbrasil.com.br/darwin/sp/index.asp
manuscritos, livros, digitalizados
http://darwin-online.org.uk/
aqui tá algumas reportagens, artigos recentes sobre.
http://darwim-eu.blogspot.com/
08 fevereiro 2009
Darwin, o abolicionista
Adrian Desmond
Não se encontra menção sobre elas nas páginas muito racionais e científicas de "Sobre a Origem das Espécies". Mas examine os diários, os cadernos particulares e o passado familiar de Darwin e encontrará um homem imerso na retórica e na crença fervorosa do movimento antiescravagista.
O homem de ciência público foi influenciado por essas paixões privadas? À luz das minuciosas pesquisas em arquivos das cartas, papéis e anotações de Darwin, acredito que a resposta é um firme "sim". Embora ele nunca tenha admitido publicamente tal motivação política, o sentimento antiescravidão foi um importante apoio à grande conquista intelectual de Charles Darwin - a teoria da evolução.

Um jovem rico saído dos claustros de Cambridge, Darwin embarcou no navio Beagle em Plymouth em 27 de dezembro de 1831. Seu itinerário de lugares longínquos é bem conhecido. O que em geral se percebe menos é que a viagem tinha diversos objetivos.
Darwin viajou como companheiro do irritadiço capitão Robert FitzRoy, cujo principal objetivo era devolver três aborígines alakaluf e yahgan (para Darwin, "fueguinos", pois vinham da Terra do Fogo, o arquipélago no extremo sul das Américas). Eles haviam sido capturados na viagem anterior do Beagle e cristianizados como experiência. Darwin viveu durante meses com esses chamados "selvagens" civilizados e compreendeu em primeira mão que, como ele escreveu, a distância entre os selvagens e os civilizados não era maior que aquela entre animais selvagens e domésticos.
Ainda mais importante, a viagem expôs Darwin ao que poucos cavalheiros ingleses da época jamais veriam - a completa e crua barbárie da escravidão. Em terra na América do Sul, sabemos pelo diário que publicou em 1845 que Darwin viu aquelas correntes, os torniquetes e o menino de 6 anos chicoteado, além de outras "atrocidades de partir o coração". Ele se descreveu como incapacitado, enquanto estrangeiro, de intervir (só o garoto chicoteado teve sua interferência; não sabemos de outra instância).Mas depois da viagem a frustração transbordou para seus cadernos evolucionistas - um recurso de crucial importância no desenvolvimento de suas ideias -, que condenavam o escravagista "que degrada sua Natureza e viola os melhores instintos ao escravizar seu semelhante negro".
Mais ou menos na mesma época, os apologistas da escravidão nos EUA afirmavam que os caucasianos e os africanos eram espécies diferentes. Essa alegação não era apenas dos propagandistas no sul do país, mas também de homens de ciência que possuíam escravos. As diversas espécies humanas não tinham uma origem comum, diziam - remontavam imutáveis àépoca da criação.
Essas justificativas dos donos de plantações revoltavam Darwin. Mas não se limitavam aos EUA. Muitos antropólogos na Grã-Bretanha e na América atraíam grandes públicos depois da década de 1840 afirmando que os brancos eram a única espécie capaz de civilização. Afinal, diziam, os negros nunca haviam produzido "um Cícero, um Bacon ou um Shakespeare". Estavam destinados a ser apenas escravos ou criados.
Darwin era muito consciente da opinião das "espécies separadas". No Beagle, ele levou uma famosa obra de 17 volumes, o "Dictionnaire Classique d'Histoire Naturelle", que dividia os seres humanos em 15 espécies e, muito ofensivamente (na visão de Darwin), até citava os fueguinos e patagônios como duas delas. Darwin, que conhecia bem esses povos, sabia que eram relacionados intimamente, mas adaptados a terrenos diferentes. Para o "Dictionnaire", cada espécie tinha sua linhagem própria. Os fueguinos e os patagônios não apresentavam maior parentesco que os homens brancos e negros.Assim, Darwin voltou à Inglaterra agradecendo a Deus "que nunca mais visitarei um país escravagista". Os eventos marcaram sua memória.
Mas a viagem não foi tanto um despertar quanto uma confirmação das opiniões radicais em que Darwin havia sido criado. Mesmo antes de embarcar no Beagle, ele foi preparado para detestar o que viu no Brasil. A extensão do envolvimento de sua família com o fim de toda a escravidão foi revelada por Jim Moore depois de pesquisar os negligenciados arquivos nas cerâmicas Wedgwood (Josiah Wedgwood, o mestre ceramista, foi o avô materno de Darwin). O trabalho minucioso com milhares de cartas desbotadas não deixou dúvidas sobre esse compromisso.
É muito sabido que o avô Wedgwood havia produzido o famoso selo "Não sou um homem e um irmão?" para a Sociedade para a Efetivação da Abolição do Comércio de Escravos - na verdade ele produziu milhares de medalhões com o lema a suas próprias custas, que se tornaram peças na moda, usadas em solidariedade, as papoulas vermelhas da época. Mas ele também patrocinou o grande agitador abolicionista Thomas Clarkson, o homem que percorreu 35 mil milhas entre portos coletando estatísticas sobre o tráfico. O dinheiro de Wedgwood também financiou a Sierra Leone Company, criada para ajudar os escravos libertos a se estabelecerem na África.O primeiro encontro de Darwin com uma pessoa negra é tão intrigante quanto pouco conhecido. Enviado para estudar medicina na Universidade de Edimburgo em 1825, Darwin foi um fracasso, e os poucos anos que passou ali são geralmente desprezados. A cirurgia o aterrorizava; as palestras o entediavam. Mas, no meu entender, ele passou 40 horas no primeiro inverno aprendendo a empalhar aves com um escravo liberto das Guianas, John Edmonston, que contava histórias sobre a vida nas plantações e sobre a floresta tropical.
A Guiana estava no noticiário: uma rebelião de escravos havia sido esmagada poucos meses antes, e John (supostamente descendente de cativos na África Ocidental) havia percorrido a floresta com o explorador Charles Waterton, cujo "Wanderings in South America" eram a sensação do momento. Assim, para Darwin, que tinha quase 17 anos, havia um certo encanto na companhia desse homem no gélido inverno de 1826. John tornou-se um "íntimo" nas palavras do próprio Darwin.
Ele sabia que os negros podiam ser civilizados. Sabia que as raças não eram espécies separadas, como afirmavam os donos de escravos, mas ficou frustrado por não conseguir fazer nada sobre a escravidão no estrangeiro. Agora seu sentimento reprimido se despejou em uma nova e estranha ciência: uma que se baseava em uma verdade oposta e evidente, de que o escravo negro era "um homem e um irmão". Para ele, o corolário da irmandade era uma imagem racial radicalmente diferente da defendida pela maioria de seus contemporâneos: a de uma "descendência comum". E foi esta que formou a imagem central da original ciência evolucionista de Darwin.Para a maioria dos colegas de Darwin, a evolução era, sob qualquer aspecto, bizarra e execrável. Um de seus professores de geologia e ordenado na igreja queria pisar com "um calcanhar de ferro sobre a cabeça desse aborto nojento".
As agonias de Darwin sobre suas próprias teorias são conhecidas. Ele levou três décadas para revelar plenamente suas idéias sobre a evolução humana. Criou sua teoria em 1837-1839, publicou "Sobre a Origem das Espécies", que evitou falar sobre a humanidade, em 1859 e finalmente tomou coragem para anunciar sua crença na evolução humana em "A Descendência do Homem" em 1871.A questão ardente, na verdade, é por que um jovem recém-saído do Beagle, com uma carreira brilhante em perspectiva - um cavalheiro para quem a honra era tudo - pensaria em arriscar tudo para desenvolver uma teoria do "homem-macaco" que confrontava os princípios mais sagrados da sociedade cristã à qual ele pertencia; e por que ele perseverou nisso através de longos anos de dúvida e temível isolamento? É em sua relação com a escravidão e a causa abolicionista que encontramos a resposta.
Em primeiro lugar, existe uma pergunta incômoda a ser respondida. Se suas visões abolicionistas orgulhosamente defendidas eram tão centrais para sua ciência, por que Darwin nunca menciona explicitamente a ligação entre elas? A resposta é dupla. Primeiro, mesmo que ele reconhecesse conscientemente esses princípios morais como verdades evidentes, existe o segredo em que ele envolvia todo o seu pensamento sobre a evolução.Em segundo lugar, há uma questão maior na maneira como Darwin concebia suas próprias "motivações". Darwin era um homem de ciência que trabalhou em uma época em que esses homens deviam seguir os princípios indutivos de Bacon. O próprio "A Origem das Espécies" apresenta seu trabalho como um acúmulo paciente de fatos que o obrigou a conclusões evolucionistas. Seus cadernos pessoais, escritos imediatamente depois da viagem do Beagle, contam uma história totalmente diferente; mas Darwin nunca teria concebido seus próprios estudos como motivados por qualquer outra coisa que não a observação e o raciocínio. Suas suposições subjacentes, como acontece com frequência com os cientistas, não foram examinadas.
A chave para se entender a posição conflituosa de Darwin e suas ações é não tanto a evidência que ele coletou quanto a maneira particular como ele as formulou. O relato dominante desse processo - que os "fatos" que ele descobriu forçaram sua mão e o levaram a desenvolver suas teorias da maneira como o fez - não se sustenta. Não há dúvida de que as aves de Galápagos e as preguiças dos pampas foram cruciais. Mas muitos naturalistas marinhos tinham visto tanto quanto Darwin viu e não gritaram: "Evolução!".Darwin era diferente. E o historiador da ciência deve tentar entender o que o impeliu a ver a evolução especificamente, e unicamente, em termos da origem comum, e assim fazer do homem apenas um tipo melhor de bruto. Qual foi o ganho moral que superou as consequências: noites sem dormir, o medo da ridicularização, o ostracismo ou pior?
A resposta é clara. Levado por sua herança antiescravagista e a terrível experiência da escravidão no Brasil, Darwin voltou à Inglaterra em 1836 e imediatamente concebeu uma imagem de descendência comum. Seus cadernos evolucionistas particulares de 1837-1838 mostram que seu pensamento se afasta do parentesco e da irmandade raciais para unir toda a criação sofredora. Ele desenvolveu essas idéias em um momento de crescente euforia abolicionista, quando os escravos estavam terminando seu "aprendizado" compulsório e finalmente sendo libertados.As origens comuns, naquela época, eram quase desconhecidas na história natural. Mas eram ubíquas na ideologia abolicionista. Essa literatura abolicionista foi a fonte de Darwin. A civilização não era uma prerrogativa branca, ele sabia. Esses sentimentos estão por trás da série de anotações de 1838 em que Darwin levou suas conclusões ao limite.
Existem diversas ironias aqui. Darwin estava libertando os escravos para torná-los igualmente humanos. Mas estava também transformando todos os humanos em animais, rejeitando os que "pensam que a origem da humanidade é divina". Para muitos de seus críticos, uma abominação estava substituindo outra; e o remédio evolucionista era tão ruim quanto a doença da escravidão.
Também há uma ironia mais triste. O humanismo de Darwin era subjetivo. Ele refletia a natureza conflituosa da sociedade britânica, em que metade do país estava tentando libertar os escravos enquanto seus compatriotas que viviam na Austrália e em outros lugares estavam ocupados exterminando os aborígines nômades em nome do progresso econômico.
O próprio Darwin havia testemunhado a limpeza étnica em escala mundial: os indígenas dos pampas na Argentina assassinados pelos gaúchos do general Rosas para liberar o terreno para o gado; os últimos tasmanianos levados para acampamentos. O Beagle chegou em meio das guerras xhosa no Cabo, no início da "Grande Marcha" bôer. Esses eventos prefiguravam um lado mais sombrio do darwinismo; e a visão do próprio Darwin se tornou mais sombria depois que ele leu em Thomas Malthus sobre as guerras e a fome como consequências das pressões populacionais.Ele usou idéias malthusianas para normalizar e naturalizar o genocídio colonial, tornando-o parte do processo evolucionário, sugerindo que esse conflito não apenas foi "natural", mas benéfico (na medida em que os sobreviventes "mais aptos" levaram adiante a raça humana). Os povos incivilizados das planícies estavam indo no caminho da megafauna que ele encontrou fossilizada sob seus pés.
Mas Darwin viu o conflito colonial como uma inevitabilidade a ser explicada, e não uma opção política a ser contestada. É uma suprema ironia que o abolicionista gentil e revoltado acabasse justificando a erradicação colonial.
Ele não viu a incongruência. E com o passar dos anos, adotou mais as atitudes de sua classe cavalheiresca sobre a ordem moral, tecnológica e intelectual "superior" conquistada pelos europeus brancos.
Então temos de viver com Darwin, com verrugas e tudo. Ele foi um homem de sua época, um espelho de sua cultura; racista enquanto também salvador da raça, perturbado pela crueldade enquanto naturalizava o genocídio, capaz de pôr a culpa na natureza e não no homem. A história é confusa e Darwin sempre foi um pensador paradoxal, ainda mais quando começou a se curvar aos ventos no final da vida.
Para comemorar figuras históricas, precisamos primeiro compreendê-las. Em 2009, 200 anos depois de seu nascimento, é hora de acender um refletor sobre o Darwin mais jovem - o homem cuja crença na fraternidade humana se transmutou em uma teoria evolucionária da origem comum. Em vez de ser moralmente subversiva, como afirmam seus críticos cristãos, a realização de Darwin se baseou na moral. Em vez de ser uma prática desapaixonada, sua ciência teve um impulso humanitário. Ela fez irmãos e irmãs não apenas de todas as raças humanas, mas de toda a vida.
02 fevereiro 2009
o curioso caso de benjamin button
fui ontem com ines, ver o filme de david fincher "o curioso caso de benjamin..."noossa, muito lindo. me emocionou a beleza, a delicadeza, a sutileza, com que trata a condição humana, a vida, a morte, a velhice... (e tô cada vez mais "~ ♪ ~ qq cena de novela me faz chorar ~ ♪ ~ " ) meu filho anando tinha ido no dia anterior. diz ele, com 24 anos, que não viu muita graça. e acho que é isso mesmo. é uma história pra nós veiarada, com mais de 50 anos.
01 fevereiro 2009
Wade Davis


Ele não explica tudo. Nem pretende. Mas Wade Davis sabe, na pele, do que o mundo é feito. Desde que deixou a casa dos pais na costa oeste do Canadá, no começo dos anos 70, ele nunca teve a pachorra de ficar parado. “Eu queria desesperadamente ter uma vida interessante”, justifica-se. Trinta e tantos anos depois, eis um homem bem-sucedido. Explorador, antropólogo, etnobotânico, escritor, conferencista, fotógrafo, documentarista. Cutucou cantos do planeta que, literalmente, não estavam no mapa. Viveu no gelo, no deserto, em florestas tropicais, montanhas, ilhas e metrópoles. Em uma semana estava recluso na biblioteca de Harvard mergulhado em referências. Na outra, enxotava insetos cáusticos atrás de xamãs na Amazônia. Tudo em nome de uma vocação que se confunde com busca espiritual: trazer a infinita riqueza cultural do mundo aos olhos do Ocidente.
Adequadamente, ele vive em Washington D.C., a capital do grande império. Uma força política e ideológica colossal que se traveste de realidade. Entre os pomposos prédios do poder na Nova Roma, Wade não se ilude. Sabe que, por mais poderosa que sejam, política e economia são apenas cultura. Um conjunto de idéias, puro e simples, apenas mais uma resposta para a pergunta fundamental: nas palavras de dr. Davis, “o que siginifica ser humano?”.
Formado em antropologia e doutorado em etnobotânica (o estudo da relação entre povos e plantas com propriedades medicinais e psicoativas), Wade foi assistente de Richard Evans Schultes, o lendário explorador que “sumiu” na Amazônia por 12 anos e trouxe à tona para o Ocidente nos anos 40 as impensáveis possibilidades das plantas alucinógenas do xamanismo indígena. Foi seu tutor que o encorajou a ir para a floresta – em uma expedição que quase lhe custou a vida. Anos depois, foi Schultes que o convocou para uma viagem que rendeu seu primeiro livro, O arco-íris e a serpente, de 1982.
Em 300 páginas, ele narra sua jornada pelo Haiti, onde descobriu e identificou quimicamente a origem dos zumbis. Os mortos-vivos eram criações reais, pessoas julgadas por sociedades secretas haitianas, vítimas de um potente veneno à base de secreções do peixe baiacu. O feito trouxe respeito ao jovem pesquisador de Harvard, que desde então narra suas explorações mais do ponto de vista de um aluno do que de um professor.
Achatamento global
Dez livros de lá pra cá, quatro deles de fotografia. Wade acaba de lançar um filme em IMAX feito em parceria com Robert Kennedy Jr. sobre a deterioração do Grand Canyon. Também dirige e narra a série de TV da National Geographic Light at The Edge of The World. Mais do que vender uma paisagem exótica e curiosa aos seus espectadores, quer demonstrar que a riqueza da imaginação humana está seriamente ameaçada. “A extinção em massa não é privilégio da biosfera”, diz Wade, “a etnosfera também está em agonia.” Etnosfera, um termo que o próprio cunhou em seu último livro. Um conceito para resumir a rede de linguagem, idéias e crenças que cobre a humanidade.
Trip encontrou com ele em sua ampla casa, um verdadeiro museu de artefatos do mundo todo espalhados entre vastas estantes de livros de toda sorte. Em seu escritório, hoje lotado de obras sobre budismo e escaladas, trabalha duro para acabar seu próximo livro, um projeto de dez anos, sobre as primeiras explorações do Everest, o ambiente budista a que os ingleses foram expostos e o espectro da Primeira Guerra batendo à porta.
Dois dias antes da entrevista, Barack Obama fora eleito presidente dos EUA. Wade ostentava um sorriso de esperança e olheiras de cansaço. No dia anterior festejou... o autodeclarado conservador passou a noite com Bob Weir, vocalista remanescente do Grateful Dead, celebrando a vitória. “Não temos idéia do tamanho da nuvem negra que dissipou”, suspira, enquanto segue na luta para evitar o tão anunciado achatamento do planeta. Porque Wade, e você também, sabe que um mundo achatado, no fim das contas, é mais... chato.

Pra começar: como antropólogo, como você vê a eleição de Obama?
Ah... foi tão importante. Meu medo era de ele não ganhar, e nosso recado para o mundo seria, mais uma vez, que, apesar de tudo o que falamos sobre liberdade e democracia, nossas contradições persistem. Nossos fundadores fizeram uma bela constituição inspirada pelo melhor do iluminismo europeu. Mas com uma contradição fundamental: éramos uma economia baseada em trabalho escravo. Lidar com isso tem sido a nossa história. Obama representa a chance de finalmente começarmos a deixar isso para trás. Segundo, tem algo que acontece nos EUA, que inspira o resto do mundo: em tempos de crise eles encontram grandeza. Sempre foi assim, George Washington, Abraham Lincoln, Roosevelt. Os últimos oito anos basicamente foram uma traição da América e seus valores. É isso o Obama, uma afirmação do próprio espírito americano, um belo novo dia.
Não é perigoso tomar um só homem como um novo dia?
O que vale aqui é a demografia: 69% dos jovens votaram no Obama. Gente de mais de 65 anos votou no McCain. Então a pergunta é clara: quer ser parte do futuro ou do passado? Nem os liberais da minha época podiam imaginar que a geração seguinte iria tão longe. Em duas décadas, as mulheres foram da cozinha para a gerência. Em uma geração, os negros foram do barraco para o Country Club. Gays saíram do armário para o altar. Mas há muito, muito a ser feito.
Por exemplo?
Veja, os EUA se tornaram muito rapidamente a maior hegemonia do mundo desde Roma. E mantiveram essa miopia de um gasto absurdo com defesa e jovens que não sabem absolutamente nada sobre o resto do mundo. Uma porcentagem gigante de jovens daqui não sabe colocar o oceano Pacífico no mapa. Recentemente fiquei sabendo que a maior parte dos congressistas americanos não tem nem sequer passaporte! Esse tipo de isolamento é algo que não dá mais para bancar hoje em dia. E o Obama traz também essa possibilidade.
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O que conservam os conservadores nos EUA?
Certamente não estão conservando a natureza. Mas acho que precisamos ser cuidadosos na hora de demonizar esse termo. Eu sou conservador de duas maneiras. Não devo um centavo a ninguém. Que é um valor conservador, republicano. E eu acredito em deixar terra para minhas filhas do mesmo jeito que eu herdei do meu pai. Isso é bem conservador.
Ao mesmo tempo esses caras me consideram um doido esquerdista fã do Grateful Dead. Pelo amor de Deus... somos nós os mais protetores e conservadores. Eu respeito valores tradicionais, valores verdadeiros. E não me importa que deus você adora.
Ao contrário, você parece gostar muito que as pessoas adorem outros deuses.
Sim. Porque muito do conflito das culturas tem a ver com a objetificação do outro. E isso não é exclusividade do Ocidente, é bom que se diga.
Quase todos os povos antigos se enxergavam como os únicos humanos. Ainda hoje muita gente vê os povos da Amazônia como selvagens, as culturas da África como primitivas. A nossa grande ilusão é que pelo nosso inegável e tremendo avanço tecnológico e econômico pensamos que outros povos ficaram para trás, ou parados intelectualmente. E nada pode ser mais falso do que isso.
Olha o budismo tibetano, não é uma ciência? O que é a ciência senão a busca da verdade? E o que é o budismo senão 2.500 anos de observação empírica da natureza da mente? Para o budista a evidência científica é a serenidade que alguém atinge seguindo a prática budista. Um monge uma vez me disse: “Nós não acreditamos que vocês foram para a Lua, mas vocês foram. Vocês não acreditam que nós atingimos a iluminação em uma encarnação, mas nós atingimos”.
Você disse que um dos componentes conservadores é o medo. Você, um conservador, tem medo de quê?
Vivemos em um tempo que é decisivo no que diz respeito a conseqüências. E o que pode ser mais significativo do que, em uma só geração, a perda de metade do legado cultural e espiritual da humanidade? É isso o que está acontecendo hoje. Meu medo é o mesmo da antropóloga Margaret Meade, uma pessoa única. Pouco antes de ela morrer, vendo o mundo indo para um caminho de homogeneidade, de uma cultura moderna tão poderosa que não teria rivais, ela temia que toda a imaginação da humanidade fosse confinada a uma única modalidade cultural e espiritual. E seu pesadelo era que um dia nós nos daríamos conta disso, mas não nos lembraríamos mais o que perdemos. É a degradação tanto da biosfera quanto da etnosfera.
O que é etnosfera?
Eu queria uma palavra que resumisse o seguinte: assim como há a biosfera, a rede biológica da vida, também existe uma trama que envolve a Terra, uma rede cultural da vida. É a soma de todos os pensamentos, sonhos, mitos, intuições trazidos pelo homem desde a aurora da consciência. A etnosfera é o grande legado da humanidade. Assim como a biosfera, a etnosfera também está seriamente ameaçada. E ainda mais do que o meio ambiente, eu diria. Nenhum biólogo ousa dizer que 50% das espécies estão à beira da extinção. Mas é exatamente isso que está ocorrendo com a diversidade cultural. O indicador máximo são as línguas. Hoje há 7 mil delas no mundo. Mas só metade está sendo ensinada para crianças. O que significa que, sem uma ação imediata e abrangente, essas línguas já estão mortas.
E por que a extinção dessas línguas é tão grave como você sugere?
Sete mil línguas representam culturas e modos e vida diferentes. São 7 mil respostas diferentes para a mesma pergunta: o que significa ser humano, o que significa estar vivo? Cada uma é um universo rico de como interpretar a existência em si.
O mundo está achatando?
Eu acho que o mundo continua sendo uma rica topografia do espírito. Não é achatado, mesmo. Nós temos essa idéia de que essas culturas coloridas e exóticas estão fadadas a desaparecer porque são tentativas fracassadas de serem como nós. Que há um sentido natural na extinção delas. Isso é um erro colossal. Na verdade são povos e culturas vivas e dinâmicas que estão sendo levados à destruição por forças claras. Ideológicas, como no caso dos chineses contra os tibetanos, industriais, no caso dos desmatamentos gananciosos, biológicas, como doenças levadas por brancos aos povos do rio Negro. Voltando ao que falávamos, no fim das contas é a economia que está destruindo culturas que não enxergam o mundo por esse prisma.
Entendo, mas por outro lado não é exatamente essa a história humana?
Uma das maiores dificuldades é que todas as culturas são míopes. Quer dizer, são presas a sua própria interpretação da realidade. Quase todas as culturas ancestrais encaram outros povos como não-pessoas. E essa é uma idéia que nós já não aceitamos. O problema é que nós, o Ocidente, não nos pensamos como uma cultura. Não pensamos nesse paradigma econômico, nessa troca global de produtos, capitalismo... qualquer rótulo que queira dar para essa coisa que nós fazemos para gerar riqueza. Não tratamos isso pelo que realmente é: uma opção, apenas uma forma de fazer as coisas. Nós tratamos como a única maneira de fazer as coisas, e como uma onda inevitável da história.
Nós chamamos economia de ciência. Ela ganha uma dimensão de verdade, de uma lei natural como física, biologia.
É! Exato. Como ciências sociais... um oximoro. A desculpa acadêmica é que a economia é baseada em matemática. Mas o que temos visto nos últimos meses deixa claro que essa economia é um jogo baseado em ganância mesmo. Lucro sujo, ponto. Todo mundo sabia que isso acabaria em desastre.
E eles continuaram até o fim por pura ganância. E está provado que essa idéia de desregularização é a permissão para o espírito da ganância agir livre.
E por que o mundo caiu nessa?
Nós empurramos ao mundo a idéia de que, se eles seguirem esse caminho, logo também chegarão ao nosso nível, ao lifestyle da Califórnia. Mas para todos desfrutarem essa vida precisaríamos de quatro planetas só para extrair energia. E muita gente é seduzida pela idéia do moderno e vira as costas para sua cultura para subir uma escada que leva a lugar nenhum. O fato é que o modelo ocidental que tanto veneramos está por aqui há 300 anos, isso é muito raso, mas teve um impacto profundo na capacidade de sobrevivência de muitas espécies. Meu Deus, nós estamos a ponto de acabar com os peixes nos oceanos, acabando com florestas nativas no planeta todo, mudamos a química da atmosfera, as grande geleiras estão derretendo...
É o poder e a miopia que destroem as culturas. O que precisamos é achar meio de as pessoas desfrutarem os benefícios do nosso modelo, que são muitos, sem que isso nos defina como pessoas. O que interessa aqui é que cultura não é algo trivial, decorativo. Cultura é um corpo de morais e valores de que nós precisamos para domar o coração bárbaro que existe muito perto da nossa superfície. É a cultura que permite dar sentido a um sentimento, a superar o medo. O ponto é que, se você entende que essas culturas não estão destinadas à extinção, então você entende que, se o ser humano é o agente de destruição cultural, podemos ser os facilitadores da manutenção das culturas diversas do planeta.
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Tem gente que defende um mundo mais homogêneo como uma possibilidade maior de harmonia, entendimento...
Muita gente fala que o mundo poderia ficar melhor com uma só língua. Para todo mundo se entender. Eu acho ótimo, então vamos aprender ioruba, que tal? Assim, uma pessoa que fala inglês pode entender como seria ser silenciada, não ter como transferir a sabedoria dos seus ancestrais. Mas é exatamente isso que acontece com muita gente a cada 15 dias. A cada 15 dias uma língua é extinta do mundo. Imagine o tanto que seria perdido se tudo o que foi escrito em inglês simplesmente sumisse. Todo Shakespeare, todo manual da Microsoft... O mundo não seria um lugar mais pobre? Eu já vi gente dizendo, “o que importa para mim se uma tribo na Amazônia sumir?”. OK, talvez nada... mas o que importaria para uma tribo da Amazônia se Nova York desaparecesse? Nada também... Mas o mundo não seria um lugar melhor se as duas possibilidades continuassem existindo?
Qual é então o bom legado do Ocidente?
Nada do que eu digo é para denegrir o Ocidente. Eu celebro o Ocidente assim como outras culturas. Eu não quero viver em um mundo sem os insights do budismo tibetano, da mesma forma que se eu sofrer um acidente de carro não vou querer um herbalista do Nepal – eu quero um hospital! Intelectualmente falando a grande idéia do Ocidente foi o iluminismo, a defesa de que o indivíduo tem o direito de determinar seu próprio destino, de se livrar da tirania do coletivo e da Igreja. E toda a ciência... Pense o que significa saber, sem sombra de dúvida, que temos um genoma praticamente idêntico, que todos os seres humanos são descendentes de um grupo de mil que saiu da África há menos de 100 mil anos. Isso não apenas destrói qualquer justificativa para o racismo como demonstra que, se nossas diferenças são tão grandes, nossas semelhanças devem ser muito maiores.
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Onde esse pensamento falhou?
O iluminismo cresceu de forma extrema no positivismo, dizendo que se um evento não pode ser medido então ele não existe. Esse novo dogma acabou em uma obsessão por medir o homem, estabelecer padrões, por tratar todas as idéias místicas como bobagem. Acho que fomos muito longe nisso. Porque intuições sobre o espírito, idéias de Deus, de mitos, memória... tudo isso nos inspirou por milênios. A extrema desmistificação do mundo pela ciência ocidental também tem um paralelo social. As pessoas do mundo moderno são livres para pensar o que quiserem, mas também perdem um conforto que havia na fé e numa estrutura social mais sólida.
Você é o primeiro a afirmar que as culturas de todos os povos são diferentes ao interpretar a existência, ao achar sentido em ser humano. Depois de ter tantas versões, qual a sua?
O grande mistério da nossa espécie é o nascimento da consciência, o que nos distingue. A linguagem, o crescimento do cérebro, algum catalisador evolucionário nos encheu de consciência.
Isso implica uma resposta mística, espiritual para a existência?
O nascimento da consciência foi o nascimento do desencanto. Do surgimento das eternas perguntas: como e por quê? Se essa busca é real, externo no universo, ou se é apenas uma conseqüência dos nossos processos mentais, eu não sei. Mas acho que no fundo não importa. Porque claramente satisfazer os impulsos da consciência, ocasionalmente alterar essa consciência através de técnicas religiosas, é tão recorrente na história humana que precisa ser entendido como um componente do apetite humano. De onde quer que venha a consciência, da alma, de fora, de dentro, de algo comum a todos... isso nunca vai ser respondido. O que importa é reconhecer que somos feitos de dois elementos. O corpo e a consciência. E que felicidade?
E você, como sacia esse desejo?
Indivíduos como eu, que pularam fora das suas crenças originais, precisam achar seus próprios meios. Eu faço isso buscando crenças e culturas que me inspirem. E faço com um senso de missão, de propósito, com um forte senso de justiça social, que é trazer essas histórias para a atenção do público. Eu acho importante que as pessoas saibam que nos Andes tem gente que acha que as montanhas são vivas e que respondem aos homens. Não são apenas pilhas de pedra para serem exploradas. Que na Polinésia os homens sabem ler o mar e o clima com precisão através de sinais para os quais somos cegos. E tenho essa sorte extraordinária de poder fazer filmes e livros sobre eles.



