28 dezembro 2022

As origens da polarização atual

Em seu livro “O Diálogo Possível”, o sr. afirma que a polarização atual tem sua origem nas disputas entre PT e PSDB. Poderia explicar?

Na redemocratização, PT e PSDB se entregaram a um jogo perigoso para a democracia por objetivos eleitorais, que é o jogo de caricatura recíproca. O PT representava o PSDB como um partido neoliberal e que teria deixado a famigerada herança maldita.

São dois termos falsos. O PSDB também fez uma caricatura do PT como um partido mais à esquerda do que efetivamente era, questionou a legitimidade da eleição de 2014, teve atuação de protagonista no impeachment, a meu ver ilegítimo, da presidente Dilma Rousseff [PT].

Esse conjunto de comportamentos de ambas as partes remete ao que os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt chamam de autocontenção ou comedimento.

É a obediência à consciência de que ganhos eleitorais imediato sem consequência de golpes baixos corroem a credibilidade das instituições a longo prazo e deveriam ser evitados. Ambos os partidos não hesitaram em se entregar a esse jogo e, sem que se dessem conta, um estava desgastando a credibilidade do outro.

Quando a sociedade brasileira chegou a uma espécie de estado de anomia após os acontecimentos de 2013, esses partidos foram vistos como forças inviáveis, e isso preparou terreno para a emergência de um populismo de extrema direita.

O debate no ambiente digital é ainda mais radical. As redes sociais têm um papel nessa dinâmica?
Sim. A arquitetura das redes sociais leva à formação dos grupos, ou das famigeradas bolhas. Quando você entra numa lógica de grupo por um laço identificatório, seja religioso, seja futebolístico, seja político-partidário, você é apoiado, você é reconhecido pelo grupo. Isso te dá um prazer narcísico do acolhimento, do pertencimento.

A tendência dessa dinâmica é recompensar a radicalidade e punir a Dúvida. Porque aquele que produz a repetição intensificada confirma o valor do grupo; quem critica premissas do grupo tende, no limite, a ser expulso.

Para que o debate público funcione, cada sujeito tem que ter uma atitude de boa-fé. Tem que ter abertura para permitir que evidências, argumentos, estatísticas e dados empíricos possam convencê-lo. A lógica de grupo transforma essa atitude.

O sujeito passa a ter um compromisso não com a interpretação mais precisa da realidade, mas com o próprio grupo. Se a melhor interpretação da realidade se chocar com os interesses do grupo, pior para a realidade. Essa talvez seja a razão principal para que nós tenhamos chegado a um estado de divisão social muito profundo.

Quando as pessoas estão completamente submetidas a lógicas de grupo, elas ativam essa retroalimentação permanente da divisão, porque a dinâmica de radicalização do próprio grupo produz ressentimento no grupo adversário, que por sua vez leva a caricaturar o outro grupo - e você entra nesse círculo vicioso.

Francisco Bosco, 46 Doutor em teoria literária pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ensaísta, foi presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes) de 2015 até o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Autor, entre outros livros, de “A Vítima Tem Sempre Razão? Lutas Identitárias e o Novo Espaço Público Brasileiro”

cazuza (morre aos 32anos, 64 anos) e lucinha araújo (86 anos)

1958 (01) 4/abril (lucinha com 22 anos)
1979 (21) (25)
1980 (22) (26)
1981 (23) (27)
1982 (24) (28) Barão Vermelho
1983 (25) (29) Barão Vermelho 2
1984 (26) (30) Maior Abandonado
1985 (27) (31) Exagerado
1987 (29) (33) Só se For a Dois
1988 (30) (34) Ideologia - Constituinte 1988
1989 (31) (35) O Tempo Não Para - Burguesia
1990 (32) (36) morte 7/julho

Ideologia
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito ah
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora as festas do "Grand Monde"
Meus heróis morreram de overdose
Eh, meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
O meu tesão
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo em cima do muro, em cima do muro
Meus heróis morreram de overdose eh
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Pra viver
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste à tudo em cima do muro, em cima do muro
Meus heróis morreram de overdose eh
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Viver, viver, viver
Ideologia
Pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver